Em 2025, a China segue como uma das potências centrais do mundo, mas sua estratégia não é mais baseada apenas em crescimento acelerado. A nova fase é de cautela calculada, reforço da autossuficiência, ampliação da influência global e modernização silenciosa.
Entre tensões comerciais, transformação digital e metas climáticas, o país ajusta seu papel no tabuleiro econômico internacional — e redefine, junto com isso, os caminhos da globalização.
Neste artigo, você vai entender:
- Como está o desempenho econômico chinês atual;
- Quais são suas prioridades estratégicas;
- Como a China está lidando com os desafios internos;
- E por que o mundo inteiro ainda gira em torno de suas decisões.
1. Crescimento econômico mais lento — porém mais estratégico
A era do crescimento chinês de dois dígitos ficou no passado. Em 2025, a segunda maior economia do mundo avança a um ritmo mais contido, em torno de 4,5% ao ano, segundo estimativas do FMI e do Banco Mundial.
Esse cenário, longe de ser um sinal de fraqueza, reflete uma mudança estrutural:
- Redução da dependência de investimentos imobiliários;
- Redirecionamento para um modelo de consumo interno e inovação tecnológica;
- Envelhecimento da população e queda na taxa de natalidade, que afetam a força de trabalho;
- Desaceleração planejada para evitar bolhas financeiras.
O que isso significa?
A China entende que crescimento desenfreado já não é sustentável. O país agora busca qualidade no crescimento — e não mais apenas volume. A economia desacelera para ganhar fôlego, foco e estabilidade.
2. Inovação como motor da nova economia chinesa
O centro do novo projeto de desenvolvimento é o plano “China 2035”, que visa tornar o país líder global em tecnologia. A meta: competir de igual para igual com os EUA e Europa nos setores mais estratégicos do século XXI.
Áreas prioritárias:
- Inteligência artificial aplicada à indústria e à defesa;
- Chips e semicondutores, para reduzir a dependência de Taiwan e do Ocidente;
- Mobilidade elétrica e baterias de nova geração;
- Robótica avançada, tanto em fábricas quanto em serviços;
- Energias limpas, incluindo hidrogênio verde.
O governo subsidia pesadamente startups nacionais, expande zonas de inovação tecnológica e fortalece as universidades técnicas com foco em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática).
📌 Em 2025, a China lidera em número de patentes registradas em IA e energias renováveis, superando até os EUA em algumas áreas.
3. Relações comerciais sob reorganização global
As disputas com os EUA continuam em 2025, com tarifas, restrições a empresas chinesas de tecnologia e tensões em setores estratégicos. Mas a China não recua — ela redireciona.
Novos eixos comerciais:
- Parcerias com o Sul Global: África, América Latina e Ásia ganham prioridade;
- Nova Rota da Seda (BRI): mais de 150 países participam, com foco em infraestrutura e logística;
- Expansão do uso do yuan como moeda de troca bilateral, especialmente em acordos com Rússia, Irã e países africanos.
A China também aproveita o vácuo de liderança deixado por potências ocidentais em regiões emergentes para consolidar sua imagem de “parceira confiável e não intervencionista”.
4. Soft power e instituições paralelas: o outro lado da influência
A estratégia chinesa vai além do comércio e da tecnologia. Pequim investe pesado no chamado soft power, promovendo sua cultura, diplomacia e influência institucional pelo mundo.
Como isso se materializa?
- Universidades e centros Confúcio em dezenas de países;
- Projetos de infraestrutura em troca de influência política;
- Financiamento através de instituições como o Novo Banco de Desenvolvimento (dos BRICS) e o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB);
- Canais midiáticos internacionais, como a CGTN (China Global Television Network), que reforçam a narrativa chinesa no exterior.
A China quer moldar o discurso global, não apenas os fluxos de mercadorias.
5. China verde? Avanços reais e contradições evidentes
Apesar de ser o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, a China também é líder mundial em investimentos em energia limpa.
Metas e medidas:
- Fechar todas as termelétricas a carvão até 2040 (a meta é ambiciosa, mas os avanços já são visíveis);
- Expansão recorde de usinas solares e eólicas, especialmente no deserto de Gobi e regiões costeiras;
- Subvenções para compra de veículos elétricos e transporte público sustentável;
- Iniciativas urbanas de “cidades verdes inteligentes”.
No entanto, as contradições são claras: cidades industriais ainda enfrentam níveis alarmantes de poluição e o uso de carvão segue elevado em períodos de alta demanda.
6. Desafios internos: o gigante tem rachaduras
Nem tudo são vitórias. A China enfrenta problemas estruturais sérios que exigem respostas cada vez mais sofisticadas:
Principais desafios:
- Desemprego entre jovens ultrapassa 17%, alimentando frustrações e protestos velados;
- Endividamento de governos locais dificulta a execução de políticas públicas e infraestrutura;
- A transparência dos dados econômicos é questionada, inclusive por analistas chineses, o que gera desconfiança de investidores;
- Censura e controle digital excessivos geram atritos com setores criativos e tecnológicos.
⚠️ O governo responde com programas de estímulo, repressão seletiva e reforço do discurso nacionalista — uma combinação que mantém o controle político, mas limita a participação social.
7. E o Brasil? Um parceiro estratégico em xeque
Para o Brasil, a China continua sendo o maior parceiro comercial, mas os riscos de dependência excessiva são cada vez mais debatidos.
Oportunidades:
- Acesso a investimentos em infraestrutura e energia;
- Parcerias tecnológicas na agricultura e digitalização;
- Participação ativa nos BRICS e projetos multilaterais como a Rota da Seda.
Riscos:
- Dependência de commodities com baixo valor agregado (soja, minério, petróleo);
- Concorrência industrial desleal em setores como eletrônicos e automotivo;
- Pressões externas por maior alinhamento diplomático.
A estratégia brasileira precisa equilibrar benefícios comerciais com autonomia geopolítica.
Conclusão: Uma China menos barulhenta — mas mais determinante
A China de 2025 não corre — ela calcula. Não impõe — ela influencia. Sua abordagem global é menos baseada em choque direto e mais em diplomacia econômica, estratégia tecnológica e poder silencioso.
Com um modelo próprio que mistura planejamento estatal, mercado interno crescente e internacionalização seletiva, a China consolida uma posição única no sistema global.
O Ocidente pode tentar conter. O Sul Global pode tentar se aproximar. Mas ninguém pode ignorar a nova lógica de poder chinesa — que é sutil, persistente e moldada para o longo prazo.