O mundo de 2025 está longe de ser o mesmo que moldou a geopolítica do século XX. Com o desgaste das instituições ocidentais, tensões comerciais, disputas tecnológicas e a busca por uma ordem mais justa, o bloco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) ganha relevância como alternativa real à hegemonia econômica e diplomática do Ocidente.
Mais do que um agrupamento simbólico, os BRICS agora se posicionam como um polo estratégico de poder, com planos ambiciosos de reestruturar fluxos financeiros, comerciais e diplomáticos. A expansão do bloco, a criação de mecanismos próprios de financiamento e comércio, e sua crescente influência no Sul Global indicam uma mudança estrutural na arquitetura da economia mundial.
Mas será que os BRICS podem realmente moldar uma nova ordem internacional? Ou enfrentam contradições internas que limitam seu potencial? Neste artigo, analisamos a trajetória, os desafios e as estratégias do bloco que pode redefinir o equilíbrio global.
1. BRICS em números: um bloco com peso real
Ao contrário de coalizões com base ideológica ou militar, os BRICS são diversos, pragmáticos e econômicos. Juntos, em 2025, representam:
- Mais de 45% da população mundial (cerca de 3,7 bilhões de pessoas);
- Cerca de 30% do PIB global (e crescente, em contraste com a estagnação de países do G7);
- 35% da produção mundial de petróleo;
- Mais de 40% da produção global de grãos;
- Liderança em minérios estratégicos como níquel, lítio, terras raras e urânio.
Além disso, a capacidade militar, tecnológica e diplomática dos membros consolida os BRICS como um grupo com influência global real.
Expansão e novos membros
Em 2025, o bloco já incorporou ou atrai países observadores e candidatos, como:
- Irã: importante produtor de energia e desafiante da ordem dolarizada;
- Argentina: membro do G20 e potência agrícola do Hemisfério Sul;
- Egito: ponte entre África, Oriente Médio e Europa;
- Indonésia: grande mercado consumidor e potência muçulmana emergente.
Essa expansão transforma os BRICS em um superbloco econômico e político do Sul Global, cada vez mais organizado e articulado.
2. Por que os BRICS estão em destaque agora?
A ascensão do grupo não é casual. Ela é uma resposta direta a um sistema internacional visto como desigual, punitivo e centralizado no Ocidente. Entre os principais fatores que impulsionam esse protagonismo:
a) Críticas à hegemonia do dólar
O uso do dólar como moeda dominante no comércio global e nos contratos internacionais é questionado. Muitos países, especialmente Rússia, China e Irã, consideram esse modelo um instrumento de dominação política e econômica dos EUA.
b) Sanções unilaterais como ferramenta de coerção
As sanções impostas por Washington e Bruxelas a países como Rússia, Irã e Venezuela mostraram a fragilidade da interdependência global, despertando um movimento por autonomia econômica e soberania financeira.
c) Desequilíbrio nos organismos multilaterais
O FMI, o Banco Mundial e a OMC ainda são dominados por regras, cotas e lideranças de países desenvolvidos, enquanto os emergentes têm peso demográfico e econômico desproporcionalmente baixo.
d) Transição energética e tecnologia
Os BRICS querem liderar a transição para uma economia verde e digital, mas com seus próprios critérios, interesses e modelos. Isso inclui acesso a financiamento verde, patentes tecnológicas e parcerias industriais justas.
3. As principais iniciativas dos BRICS em 2025
Longe de discursos genéricos, os BRICS vêm executando ações concretas para mudar o sistema global por dentro e por fora.
a) Sistema financeiro alternativo ao SWIFT
A exclusão da Rússia do sistema SWIFT em 2022 foi um divisor de águas. Desde então, os BRICS criaram e testam sistemas paralelos de pagamentos internacionais, baseados em moedas locais, blockchain e bancos centrais conectados.
Essa estrutura reduz a dependência do dólar e blinda os países contra sanções futuras.
b) Discussão sobre uma moeda comum digital
Está em análise a criação de uma moeda digital para uso entre os membros do bloco, especialmente para comércio e financiamento de projetos conjuntos.
Essa moeda, baseada em cesta de moedas dos membros, pode ser um passo histórico rumo a uma ordem monetária multipolar.
c) Novo Banco de Desenvolvimento (NDB)
O banco dos BRICS amplia sua atuação em:
- Projetos de infraestrutura sustentável;
- Financiamento climático e de inclusão social;
- Apoio a países não membros do G7 que buscam alternativas ao Banco Mundial.
O NDB também começa a aceitar novos membros, fortalecendo seu capital e alcance global.
d) Acordos em ciência, tecnologia e educação
O bloco criou grupos de cooperação em:
- Inteligência artificial, 5G e semicondutores;
- Educação técnica e intercâmbio acadêmico;
- Pesquisa em biotecnologia e agricultura de precisão.
Tudo isso com foco em independência tecnológica e redução da dependência das big techs ocidentais.
4. Vantagens e desafios da aliança BRICS
✅ Pontos fortes
- Diversidade econômica: o bloco reúne produtores de energia, tecnologia, alimentos e serviços;
- Mercados internos gigantescos, com potencial de consumo de massa;
- Complementaridade estratégica: a China industrializa, o Brasil fornece alimentos, a Rússia energia, a Índia TI, e a África do Sul recursos minerais.
Essa complementaridade cria um ecossistema potente de cooperação Sul-Sul.
⚠️ Pontos frágeis
- Diferenças ideológicas e políticas entre regimes democráticos e autoritários;
- Conflitos históricos, como a rivalidade entre Índia e China;
- Burocracia e lentidão na tomada de decisões, o que dificulta avanços ágeis;
- Desconfiança mútua e receios de que a China se torne hegemônica no bloco.
Apesar disso, o pragmatismo comercial e diplomático tem superado as divergências, consolidando o BRICS como espaço de negociação eficaz.
5. O papel do Brasil nos BRICS
O Brasil ocupa posição estratégica, mas ambígua dentro do bloco.
Pontos de força:
- É fornecedor confiável de alimentos, energia limpa (etanol e eólica) e minérios;
- Tem laços comerciais e diplomáticos com todos os membros do BRICS e com o Ocidente;
- Deseja atrair investimentos do NDB para obras públicas, infraestrutura e transição verde.
Desafios:
- Evitar ser cooptado pelos interesses de China ou Rússia;
- Manter o equilíbrio diplomático com EUA e União Europeia;
- Assumir liderança propositiva dentro do bloco, e não apenas papel de participante.
Em 2025, o Brasil atua como ponte entre o Sul Global e os fóruns tradicionais, e isso pode ser sua maior vantagem geopolítica.
6. Os BRICS como alternativa — ou correção — da ordem atual?
A retórica dos BRICS não é de ruptura completa, mas de reformismo estrutural. Eles querem:
- Redistribuir o poder decisório global de forma mais justa;
- Criar mecanismos financeiros e comerciais menos vulneráveis a sanções e crises externas;
- Ser protagonistas da transição digital e energética segundo seus próprios modelos.
Mais do que uma nova “Guerra Fria”, o que se desenha é um mundo multipolar, dinâmico e com múltiplos centros de decisão.
Conclusão: Um novo centro de gravidade está se formando
Os BRICS já não são apenas uma aliança informal de países em desenvolvimento. Em 2025, representam uma força estruturada, com propostas concretas e ambição geoeconômica clara.
A ascensão do bloco sinaliza:
- O fim da unipolaridade ocidental baseada no dólar e em instituições criadas no pós-guerra;
- A emergência de novos modelos de cooperação internacional, com base na diversidade, soberania e pragmatismo;
- Uma oportunidade histórica para redefinir as regras do jogo global.
📌 Para o mundo, isso representa mais competição, mais equilíbrio e — com sorte — mais justiça.
📌 Para países como o Brasil, é uma chance única de influenciar o futuro — desde que saiba agir com inteligência, autonomia e visão de longo prazo.